Conta Toivo Uuskallio, o idealizador e fundador da Colônia Finlandesa de Penedo, em seu livro "Na Viagem em Direção à Magia do Trópico", ter recebido um chamado para deixar sua terra natal e emigrar para o Sul longínquo. Chegou este chamado de forma misteriosa, à noite, e sem emissário aparente.
O chamado era muito forte. E, assim em meados de 1927 embarcaram para o Brasil Toivo e sua mulher Liisa, acompanhados de três rapazes, que compartilhavam de seus ideais.
Pretendiam eles, viver no longínquo Sul, onde o clima permitia uma vida mais natural, praticando a nudez e permitindo o uso de vestuário mais leve, gozando assim dos benéficos raios solares. Também fazia parte de seu programa de vida a alimentação vegetariana, e a abstenção de bebidas alcoólicas, chá e café.
Após um período de aclimatação e início de aculturação no Rio de Janeiro, foi Uuskallio e o grupo contratado para trabalhar numa fazenda de propriedade do Mosteiro de São Bento, Três Poços, nas proximidades de Volta Redonda, Estado do Rio.
Esse trabalho na fazenda, além de propiciar aos agricultores finlandeses o início do conhecimento das culturas praticadas no Brasil, fez com que conhecessem algumas propriedades para implantação de sua colônia ideal.
Voltou Uuskallio para a Finlândia em 1928, onde publicou o livro "Matkalla Kohti Tropiikin Taikaa" (Na Viagem em Direção à Magia do Trópico), que relatando suas idéias e impressões de viagem influiu decisivamente na implantação de seu projeto de fundar uma colônia finlandesa vegetariana no Brasil.
Ajudado pelo Pastor Pennanen e por Mikko Airila, procedeu ele a intensa campanha de divulgação e recrutamento, com artigos na imprensa, especialmente no jornal Tyokansa, e conferências, para angariar recursos.
Foi bem sucedido, e em 28 de janeiro de 1929 foi realizada a compra da Fazenda Penedo, localizada no Vale do Paraíba, 2º Distrito de Resende.
A Colônia
Não existe em Penedo registro nominal sobre os que vieram, mas no perído de 1 de setembro de 1927 até 16 de outubro de 1940, chegaram ao porto do Rio de Janeiro 296 finlandeses, registrados 208 como imigrantes. O período de maior fluxo foi o ano de 1929 quando chegaram 122 colonos. Em 1930 ainda chegaram 21, e em 1931, 23. No restante do período, que terminou com o início da Segunda Grande Guerra, as chegadas foram pequenas, a não ser em 1938, quando chegaram 19 imigrantes.
Como previsto no Projeto Habitacional de Penedo, nos primeiros anos, até que cada um pudesse construir sua casa em um dos 250 lotes da fazenda, a vida foi em comunidade. Praticava-se uma lavoura de subsistência, e cultivava-se viveiros de mudas de laranja, cuja venda constituía a principal fonte de renda da colônia.
Muitos, decepcionados com as duras condições de trabalho, retornaram à Finlândia. As terras da Fazenda Penedo não eram boas. Assim, alguns obtiveram de volta o dinheiro que tinham investido e procuraram outras terras. Com a queda da indústria da laranja na Baixada Fluminense, cessou esse mercado, e os finlandeses tiveram que procurar outras alternativas. Foi tentado o cultivo de tomate, mas as dificuldades de fazer chegar a produção ao mercado fizeram com que alguns se dedicassem à criação de galinhas.
E, agindo em conjunto, comprando rações e víveres por atacado, acabaram formando uma cooperativa informal. Essa cooperativa informal foi a base do atual Clube Finlândia, fundado em 1943.
Dispersão da Colônia
O final da década de 30 foi de grandes dificuldades, a vida só melhoraria para os finlandeses com a venda, em 1942, de parte da fazenda a uma companhia suíça que lá estabeleceu a Companhia Plamed, para a produção de plantas medicinais. Com o produto dessa venda conseguiu Uuskallio saldar suas dívidas, tinha hipotecado a fazenda, e todos se beneficiaram. Alguns receberam de volta o que tinham investido outros obtiveram trabalho nos serviços de plantio de eucaliptos, beneficiamento das essências medicinais, e na construção de estradas e pontes.
Foi nesse período que a indústria hoteleira de Penedo teve seu início. A Colônia, com seus habitantes louros e costumes diferentes, a sauna por eles introduzida, seus bailes com polcas, mazurcas e tangos, atraia as pessoas. E, havendo agora lugar na Casa Grande, desocupada pelos colonos, passou lá a funcionar o primeiro hotel de Penedo.
Aumentando o movimento, passaram os finlandeses a receber hóspedes também em suas casas. Naquela época havia o hábito de se passar as férias anuais, geralmente de duas semanas, em hotéis-fazenda, em regime de pensão completa. As reservas eram feitas por carta, telefone praticamente não havia, e os hóspedes chegavam após viajar em 6 horas de trem do Rio, ou um pouco mais de São Paulo. Da Estação Marechal Jardim, onde desembarcavam, eram transportados para Penedo às vezes até de carro de boi, quando não havia uma charrete.
A boa comida, e a vida simples e agradável fazia com que voltassem e recomendassem aos amigos. E com a ampliação das casas nasceram as pensões de D.Lídia, D.Hilja, D.Siiri e D.Liisa.
Início do Desenvolvimento
Terminada a guerra, cessou a Plamed suas atividades. Foi então sua área vendida para a AABB, Associação Atlética do Banco do Brasil, que loteou a parte baixa, mais tarde ampliada pela Companhia Campo até a Fazendinha, na parte alta de Penedo.
Nessa época já existia a Rodovia Presidente Dutra, inaugurada em 1951, o que permitiu o acesso aos automóveis e gerou o turismo de fim de semana. Isto fez com que as antigas pensões fossem ampliadas e se transformassem no Hotel Bertell, Hotel Chácara das Duas (atual Pequena Suécia) , na Pousada Penedo e a Pensão da Da.Lidia (atual Pousada Arboretum) que ainda hoje existem.
Esta é uma versão , dentre outras não tão diferentes, de como este grupo de finlandeses se instalaram em nossa região, enriquecendo a nossa cultura com tantos costumes interessantes advindos de uma terra distante, bonita e fria, como a Finlãndia.